DITOS POPULARES

                   Esta página inspira-se, adapta e acresce alguns ditos de domínio público (apelidos, comparações e ditados), a partir de MOTA (1967  p. 192-199), aplicados nos tempos do cangaço. Alguns existem desde os tempos coloniais, outros persistem até nossos dias nas regiões interioranas do Nordeste brasileiro.

Eis, portanto, alguns deles:

 

APELIDOS

DENOMINAÇÃO

SIGNIFICADO

Arroz doce de pagode

Indivíduo que não perde festa

Barata descascada

Indivíduo muito alvo

Barba de arroz doce

Indivíduo de barba alourada

Barba de sovaco de ovelha

Indivíduo ruivo

Barriga de bezerro enjeitado

Indivíduo barrigudo

Beiço de alguidar

Indivíduo beiçudo

Beiço de gamela

Indivíduo beiçudo

Bigode de arame

Indivíduo ruivo

Boca de carga vazia

Indivíduo que tem boca grande

Boca de chupar ovo

Indivíduo que tem boca pequena

Boca de moela

Indivíduo desdentado

Boca de ninho

Indivíduo que usa barba à nazarena

Bunda de tanajura

Indivíduo que tem glúteos grandes e roliços

Cabeça de bater sola

Indivíduo que tem a cabeça achatada

Cabeça de escapole

Indivíduo que usa cabelo cortado rente ao crânio

Cabeça de nós todos

Indivíduo que tem cabeça grande

Cabelo de bosta de rolinha

Indivíduo que tem cabelo carapinha (pixaim)

Cabelo de espeta-caju

Indivíduo que tem cabelos eriçados

Cabelo de espiga de milho

Indivíduo de cabelos avermelhados

Cabelo de mel com terra

Indivíduo que tem cabelo carapinha (pixaim)

Cabelo de pimenta do reino

Indivíduo que tem cabelo carapinha (pixaim)

Cabo de formão

Indivíduo baixo e gordo

Caga-raiva

Indivíduo de comportamento irascível

Calunga de botica

Indivíduo enfeitado e pedante

Cambito de sabiá

Indivíduo que tem pernas finas

Caneco amassado

Indivíduo que tem corcunda (escoliose)

Cara de areia mijada

Indivíduo que tem sinais de varíola (ou varicela)

Cara de batata estragada

Indivíduo que tem sinais de espinhas (acne)

Cara de cachimbo cru

Indivíduo de feições grosseiras

Cara de lua cheia

Indivíduo que tem cara larga e arredondada

Cara de mamão macho

Indivíduo que tem o rosto longo e descarnado

Cara de milagre

Indivíduo muito feio

Carne-viva

Indivíduo muito vermelho

Carranca de portão

Indivíduo carrancudo

Carrapeta-doida

Indivíduo irrequieto, que anda às pressas

Chapéu de apara-castigo

Indivíduo que usa chapéu de abas largas

Cururu de goteira

Indivíduo corpulento

Dente de preá

Indivíduo que tem dentes miúdos, salientes e superpostos

Desertor de cemitério

Indivíduo que tem aspecto cadavérico

Espalha-brasas

Indivíduo turbulento

Espinhaço de olaria

Indivíduo que tem corcunda (escoliose)

Fecha-comércio

Indivíduo desordeiro

Forma de fazer macaco

Indivíduo muito feio

Mão de catarro

Indivíduo que não conduz lenço para se assoar

Maracujá de gaveta

Indivíduo que tem pele rugosa, engelhada

Olho de cabra morta

Indivíduo que tem lânguido o olhar

Olho de cachimbo apagado

Indivíduo que tem um olho vazado

Olho de pitomba

Indivíduo que tem salientes os globos oculares

Olho de ternantonte (transanteontem)

Indivíduo estrábico

Olho de vaca laçada

Indivíduo que costuma andar de vista baixa

Orelha de abanar fogo

Indivíduo que tem orelhas côncavas

Ovo de guiné (galinha d’Angola)

Indivíduo sarapintado de sardas

Pai de chiqueiro

Indivíduo que tem barbas longas

Papangu de quaresma

Indivíduo abestado, mas metido a espirituoso

Patacão novo

Indivíduo ruivo e de pele lustrosa

Pau de enrolar tripa

Indivíduo alto e magro

Pé de lancha

Indivíduo que tem pés grandes

Pé de rebolo

Indivíduo que tem pés grossos

Perna de arco de barrica

Indivíduo que tem pernas curvas

Perna de bater banha

Indivíduo que arrasta uma das pernas, a qual é mole

Perna santa

Indivíduo que arrasta uma das pernas, a qual é dura

Pescoço de garrafão

Indivíduo pescoçudo

Pestana de porco ruivo

Indivíduo albino

Pinguelo de arapuca

Indivíduo baixinho e raquítico

Queixo de graviola

Indivíduo que tem o queixo torto

Sobrancelha de caboré

Indivíduo que tem sobrancelhas espessas

Tacho areado

Indivíduo vermelho e ruivo

Tamborete de zona

Indivíduo baixinho e agastadiço

Tatu enfezado

Indivíduo baixinho e agastadiço

Tição apagado

Indivíduo negro vestido de preto

Toco de amarrar jegue

Indivíduo que é baixo e gordo

Toco de cachorro mijar

Indivíduo que é baixo e gordo

Toitiço de chamurro

Indivíduo que tem larga nuca (taurino)

Unha de [tatu] peba

Indivíduo que não apara as unhas

Venta de ripulego

Indivíduo que tem o nariz achatado

Venta de telha emborcada

Indivíduo que tem narinas dilatadas

Venta de tucano

Indivíduo narigudo (adunco)

 

 

 

COMPARAÇÕES

Acabar-se depressa como sabão em mão de lavadeira.

Agoniado como cobra quando perde a peçonha

Andar depressa como quem vai tirar o pai da forca.

Andar devagar como quem procura com os pés penico no escuro.

Andar ligeiro que só peba em areia frouxa.

Apanhar que nem couro de pisar tabaco.

Apertado como pinto no ovo

Besta como aruá

Calça curta que só calça de pegar marreca.

Calça frouxa que nem calça de saltar riacho.

Caro que nem ovo em tempo de quaresma

Certo que só pau de cambiteiro

Chorão que nem bezerro desmamado

Chorar que nem mamão verde cortado.

Contente que nem barata em bico de galinha

Desarrumado que nem gaveta de sapateiro

Desconfiado como cachorro que quebrou louça

Desinquieto [irrequieto) como galinha quando quer por.

Doer que só topada de madrugada.

Durar pouco que nem manteiga em venta de cachorro.

Engordar da noite pro dia que nem cachorro de curral.

Entrar macio que só colher em mamão maduro.

Feio como a necessidade.

Feio como justiça do diabo.

Furado que nem renda de papelão

Gostar tanto de uma coisa como pulga em cós de saia.

Justo que só boca de bode

Limpo que nem pano de coar café.

Limpo que nem pau de galinheiro.

Magro como cavaco de aroeira

Magro como uma imagem

Mais gente que nem bosta de cabrito em porta de igreja.

Malcriado como rapariga de soldado em portão de feira

Medroso que nem sagüi

Padecer que só sovaco de aleijado em muleta.

Perverso que só jararaca do rabo fino

Rente como boca de bode

Resistente que só cascavel de quatro ventas

Rio tão seco que não tem água que dê nos peitos de um peba.

Ruim que nem jerimum cheio d'água.

Seco que nem língua de papagaio

Seguro como mocotó de boi carreiro

Sofrer que só pé de cego em porta de igreja.

Sono leve como o xexéu

Suar mais do que tampa de chaleira.

Tão besta que, pra ser burro, só falta estercar redondo.

Tão perverso que tem coragem de matar padre celebrando missa.

Teimoso como boi de carro.

Tremer como folha de catolé babão.

Valente que nem cobra de resguardo

Velho como o chão

Velho e barbudo como D. Pedro II

Vomitar que nem urubu novo.

Zoada grande como de fogo em tabocal.

 

 

 

DITADOS

Boi ronceiro bebe água suja.

Boi sonso é que arromba curral.

Buraco velho tem cobra dentro.

Cabaça que leva leite nunca mais deixa a catinga.

Caça ruim é que estraga mundéu.

Caititu fora da manada cai no papo da onça.

Camarada é boi de carga.

Carro apertado é que canta.

Casa de mulher feia não precisa de tramela.

Dois tatus machos não moram num mesmo buraco.

Filho de viúva ou é malcriado ou mal-acostumado.

Galinha nanica não põe no mato.

Garapa dada não é azeda.

Homem que chora e mulher que não chora, perto deles nem uma hora.

Hóspede em casa é dia santo.

Jibóia não corre, mas pega veado.

Macaco não briga com o pau onde sobe.

Mulher calada é pior que boi sonso.

Mulher de cabelo na venta nem o diabo agüenta.

Mulher de igreja, deus nos proteja.

Mulher de janela, nem costura nem panela.

Mulher e chita, cada um acha a sua bonita.

Mutuca é que tira o boi do mato.

Na sombra da galinha o cachorro bebe água.

Não há carne sem osso nem farinha sem caroço.

Não há mulher sem graça, nem festa sem cachaça.

Pé de galinha não mata pinto.

Pobre o cavalo de o cão [diabo] andar montado.

Pólvora pouca, chumbo até a boca.

Por causa de uma espora, perde-se uma vaquejada.

Pra quem ama catinga de bode é cheiro.

Primos e pombos é que sujam a casa.

Quando a barriga está cheia, toda goiaba tem bicho.

Quando a cabra tem muito viço, dá com os cornos no toitiço.

Quem acha pau, faz colher.

Quem ama, pisa na lama.

Quem anda na garupa não pega na rédea.

Quem arrumou sua mão de milho que dependure.

Quem não bebe cheira o copo.

Quem não muda de caminho é trem.

Quem nasceu pra ser tatu morre cavando.

Quem se faz de açúcar mela no sereno.

Sapo de fora não chia.

Só se sente falta d’água quando o pote está vazio.

Sossego de homem é mulher feia e cavalo capado.

Todo caminho dá na venda.

Um dia, um dia, cachorro de paca pega cotia.

Vaca parida não come longe.

Viúva rica casada fica.

Xexéu e vira-bosta, cada qual do outro gosta.

 

 

REFERÊNCIA BIBLIOGRAFIA

 

MOTA, Leonardo. op cit.

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